Carta MCC Brasil – Outubro 2011 (146ª.)
“… alguém na estrada disse a Jesus: ‘Eu te seguirei para onde quer que fores…” (Lc 9,57)
“Vede, eu vos envio como ovelhas para o meio de lobos” (Mt 10,16)
“Ide, pois, fazer discípulos entre toda as nações…” (Mt 28, 19)
Amados irmãos e irmãs, minha fraterna saudação a todos, “discípulos missionários de Jesus Cristo para que nossos povos nEle tenham vida”[1]:
Desde há muitos anos na Igreja Católica, falou outubro, falou Mês das Missões. Quase sempre, em tempos idos, missões ou missionários eram sinônimos de terras distantes, países longínquos e homens e mulheres que, consagrados, deixavam suas famílias e sua pátria para “catequizar” os que ainda não conheciam Jesus e sua Igreja. Hoje, felizmente, trata-se de uma mentalidade ultrapassada trazendo à lembrança tempos de uma Igreja ainda em supremacia em relação às demais crenças. Esta mentalidade significava, mais nada menos, do que reduzir a missão essencial da Igreja de Jesus Cristo. Até que, sobretudo a partir, do Concílio Vaticano II (1962-1965) teve início uma mudança de mentalidade quanto aos campos de missão e aos seus destinatários. Lembro-me quando alguns autores chegaram a afirmar, para susto de muitos que, por exemplo, a França, tradicionalmente tida como “filha primogênita da Igreja”, era um país de missão (1943)! É claro que, mais adequadamente do que naquele tempo, estamos convencidos que “país de missão” são todos os países e todos os povos do mundo.
Para seguir em nossa reflexão “missionária”, farei uso, ainda que sumariamente, de dois referenciais atualíssimos e importantíssimos: a) o Documento de Aparecida (DAp), essencialmente missionário já no seu lema: “Discípulos e missionários de Jesus Cristo para que nEle nossos povos tenham vida…”. “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida” (Jo 14,6) e b) a Exortação Apostólica Verbum Domini (VD)– III Parte: “A missão da Igreja: anunciar a Palavra de Deus ao mundo”.
1. A Igreja toda missionária. Já na introdução do DAp[2] encontramos como que um ousado desafio lançado pelos nossos Pastores a toda a Igreja da América Latina e do Caribe: “A Igreja é chamada a repensar profundamente e a relançar com fidelidade e audácia sua missão nas novas circunstancias latino-americanas e mundiais”. Ao referir-se à “Igreja”, o DAp entende não só cada católico ou aos bispos, padres ou pessoas consagradas. Trata-se de toda a comunidade eclesial: instituições, comunidades, movimentos, etc.. Sobretudo a diocese e paróquia, ou seja, a “igreja nas bases”, deveriam assumir suas responsabilidades acionando por todos meios disponíveis sua atividade evangelizadora. Para alcançar este objetivo o DAp sugere um “conversão Pastoral e renovação missionaria da comunidade”. Visando a este objetivo, insiste-se com termos, à primeira vista bastante fortes, sobre a radicalidade desta conversão para uma consciência profundamente missionária: “Nenhuma comunidade deve isentar-se de entrar decididamente, com todas as forças, nos processos constantes de renovação missionária e de abandonar as ultrapassadas estruturas que já não favoreçam a transmissão da fé” (DAp 365). São palavras muito incisivas que deveriam provocar sérios questionamentos em todas as instâncias da Coordenação pastoral, tanto das dioceses como das paróquias.
Da mesma forma vamos encontrar na VD toda a Terceira parte: “Missão da Igreja: anunciar a Palavra de Deus ao mundo”. Merecem especial destaque os parágrafos 92: “Da Palavra de Deus deriva a missão da Igreja” e 93: “A Palavra e o Reino de Deus”. Deixo-lhe à meditação, apenas dois pequenos trechos: a) “O Sínodo dos Bispos reafirmou com veemência a necessidade de revigorar na Igreja a consciência missionária, presente no Povo de Deus desde a sua origem” (DAp 92). Ainda: “Não se trata de anunciar uma palavra anestesiante, mas desinstaladora, que chama à conversão, que torna acessível o encontro com Ele, através do qual floresce uma humanidade nova” (DAp 93).
2. O discípulo missionário de Jesus Cristo: Discípulo é aquele que ouve o Mestre; entusiasma-se por Ele; assimila na sua mentalidade e na vida as ideias dEle. Mais ainda e como consequência necessária do ser discípulo, segue o Mestre onde quer que vá. Foi assim com Mateus: “Ao passar, Jesus viu um homem chamado Mateus, sentado na coletoria de impostas, e disse-lhe: ‘Segue-me’. Ele se levantou e segui-o” (cf. Mt 9.9; 8,19; Lc 9,57). E toda a caminhada com Aquele que “não tinha onde reclinar a cabeça…(cf Lc 9, 58) é marcada pela alegria incontida do discípulo: “Neste encontro com Cristo, queremos expressar a alegria de sermos discípulos do Senhor e de termos sido enviados com o tesouro do Evangelho…” (DAp 28). Ao seguir Mestre o discípulo se convence que deve, com o Ele, anunciar o Reino de Deus, a Palavra do Pai feita carne. Torna-se, então, missionário, pois não existe discípulo que não seja missionário e missionário que não se comporte como discípulo. Vejam que palavras a VD tem para os fieis leigos: ”Os fieis leigos são chamados a exercer a sua missão profética, que deriva diretamente do batismo e testemunhar o Evangelho na vida diária onde quer que se encontrem. A este respeito, os Padres sinodais exprimiram «a mais viva estima e gratidão bem como encorajamento pelo serviço à evangelização que muitos leigos, e particularmente as mulheres, prestam com generosidade e diligência nas comunidades espalhadas pelo mundo, a exemplo de Maria de Magdala, primeira testemunha da alegria pascal» (VD 94). E a alegria do discípulo missionário haverá de se plena: “Conhecer a Jesus é o melhor presente que qualquer pessoa pode receber; tê-lo encontrado foi o melhor que ocorreu em nossas vidas, e fazê-lo conhecido com nossa palavra e obras é nossa alegria” (DAp 29).
3. Os Movimentos e Comunidades eclesiais: Ao nos referir aos Movimentos e Comunidades eclesiais, constatamos, com a certeza alicerçada nos documentos do magistério, a absoluta necessidade e urgência de uma consciente e profunda conversão missionária, sejam eles quais forem, convidados a ultrapassar as barreiras de uma ação somente pessoal, para uma ação missionaria em “comunidade”… “Esta firme decisão missionária deve impregnar todas as estruturas eclesiais e todos os planos pastorais de dioceses, paróquias, comunidades religiosas, movimentos e de qualquer instituição da Igreja. Nenhuma comunidade deve se isentar de entrar decididamente, com todas suas forças, nos processos constantes de renovação missionária e de abandonar as ultrapassadas estruturas que já não favoreçam a transmissão da fé”(DAp 365). Ainda a VD sugere que pelos Movimentos e Comunidades eclesiais sejam devolvidas novas formas de anúncio do Evangelho: “Além disso, o Sínodo reconhece, com gratidão, que os movimentos eclesiais e as novas comunidades constituem, na Igreja, uma grande força para a evangelização neste tempo, impelindo a desenvolver novas formas de anúncio do Evangelho” (VD 94). Permitam-me exemplificar com o Movimento de Cursilhos, cujo carisma está contido na sua definição. Lá onde se afirma que seu carisma é a pessoa e sua conversão, por outro lado, julgo ser esta uma oportunidade única do MCC na América Latina, para que se revitalize, também, a vocação missionária do próprio Movimento como comunidade missionária de discípulos de Jesus, e não, apenas como deve fazê-lo a pessoa, individualmente, mas “….criando núcleos de cristãos”, ou pequenas comunidade de fé - (Doc.62 n.121” que evangelizem seus ambientes, isto é, que “… fermentem de Evangelho seus próprios ambientes, Seria necessário dizer mais?
Despeço-me com um abraço fraterno, “fixando o olhar em Maria e reconhecendo nela a imagem perfeita da discípula missionária[3]”,
Pe. José Gilberto Beraldo
Grupo Sacerdotal do Grupo Executivo Nacional do MCC do Brasil